A qualidade do ar, indica-nos o nível de poluição do ar que respiramos, o qual é provocado por diversas substâncias químicas presentes no ar, as quais por sua vez, alteram a composição natural da atmosfera.

As fontes de emissão dos poluentes atmosféricos podem ser de origem antropogénica (tráfego automóvel, actividade industrial, etc) ou de origem natural (actividade vulcânica, incêndios de origem natural, acção do vento, etc).

As substâncias químicas lançadas na atmosfera podem ter um maior ou menor impacte na qualidade do ar, consoante a sua composição química, a sua concentração, as condições meteorológicas e a topografia do local.

A qualidade do ar é um indicador ambiental que deve ser monitorizado nas localidades onde existam fontes de poluição significativas de modo a salvaguardar o bem estar das populações e evitar a exposição das mesmas a episódios de poluição, os quais poderão afectar a saúde dessas mesmas populações.

Principais poluentes atmosféricos

Partículas em suspensão (PM10)

As partículas em suspensão têm origem em diversas fontes (combustão, industriais, naturais), e diferem na sua composição química, física, e no tamanho. Contudo, as que representam um risco para a saúde humana estão associadas às emissões antropogénicas e especialmente para a fracção aerodinâmica inferior a 10 µm (PM10), ou seja, as partículas em suspensão susceptíveis de passar através de um filtro selectivo com 50% de eficiência para um diâmetro aerodinâmico de 10 µm. Esta classe de partículas representa aquelas que conseguem penetrar nas vias respiratórias com repercussões ao nível da saúde das populações, principalmente nos grupos de risco (pessoas asmáticas, crianças, idosos).

As partículas de diâmetro inferior a 2,5 µm conseguem por sua vez penetrar nos alvéolos pulmonares (brônquios e pulmões).

A matéria particulada existente no ar pode também ser classificada como partículas de origem primária, ou seja, emitidas directamente para a atmosfera, ou de origem secundária, as quais são formadas na atmosfera através de mecanismos de reacção com outras substâncias.

Os processos de combustão representam o principal meio de emissão de partículas primárias para a atmosfera, sendo o tráfego automóvel a principal fonte de emissão nas zonas urbanas.

O tempo de vida das partículas em suspensão na atmosfera depende do tamanho destas e também das condições meteorológicas. A fracção fina (0,2 µm a 2 µm) corresponde essencialmente às partículas que foram recentemente emitidas ou formadas na atmosfera, são estáveis e o seu tempo de residência na atmosfera é elevado. A fracção grosseira (2 µm a 10 µm), está associada à emissão de partículas provenientes de processos industriais, poeiras do solo, fenómenos de ressuspensão, spray marinho, etc, devido ao seu tamanho o seu tempo de residência na atmosfera é curto.

Monóxido carbono (CO)

O monóxido de carbono resulta da combustão incompleta dos combustíveis fósseis e é um gás tóxico que em determinados níveis pode reduzir a capacidade de transporte de oxigénio no sangue e em casos extremos levar à morte.

Nas zonas urbanas, é de entre todos os poluentes característicos do tráfego rodoviário o indicador mais expressivo da poluição gerada durante as horas de maior densidade de tráfego, sendo as concentrações mais altas verificadas junto aos eixos de circulação rodoviária.

Óxidos de azoto (NOx)

As principais fontes de óxidos de azoto (NO+NO2) são de origem antropogénica (tráfego rodoviário, actividade industrial). Durante o funcionamento dos motores dos veículos motorizados ocorrem processos de combustão interna a elevadas temperaturas com a formação de óxidos de azoto a partir da oxidação do azoto presente na reacção entre o ar e o combustível. Deste modo a principal fonte de emissão de NOx (NO (monóxido azoto) + NO2 (dióxido de azoto)) é a circulação automóvel, logo a concentração destes poluentes é superior nas zonas urbanas onde ocorre maior intensidade de tráfego.

As emissões dos óxidos de azoto dão-se na forma de monóxido de azoto, que na presença do oxigénio atmosférico é oxidado, formando-se então o dóxido de azoto que é o constituinte com maior perigosidade ao nível da saúde pública, causando problemas respiratórios, agravamentos dos sintomas de asma, etc, pelo que a legislação apenas fixa valores limite para este poluente.

Por outro lado, os óxidos de azoto podem reagir com outros compostos presentes na atmosfera, como por exemplo alguns hidrocarbonetos (compostos orgânicos voláteis), na presença da radiação solar, originando a formação de outros poluentes.

Podem ainda causar outros impactes no ambiente, uma vez que reagem com o vapor de água presente na atmosfera, depositando-se no solo sob a forma de ácido nítrico.

Ozono (O3)

O ozono troposférico é considerado um poluente secundário. A sua formação resulta, assim como todos os poluentes fotoquímicos, de reacções que ocorrem na atmosfera desencadeadas pela acção da luz solar, na presença de certos compostos designados por precursores com origem antropogénica e biogénica, nomeadamente os óxidos de azoto e os compostos orgânicos voláteis (hidrocarbonetos). Deste modo, a concentração de ozono depende dos poluentes precursores, da época do ano e da latitude (factores que influenciam a intensidade da radiação solar).

A formação de ozono, ao contrário do que se poderia pensar, é menor nos centros urbanos, ou seja, junto às fontes emisoras dos precursores, e maior fora dos espaços urbanos. Por um lado, porque existem nas zonas urbanas poluentes que reagem quimicamente removendo o ozono, como o monóxido de azoto (NO) emitido pelos veículos, que consome o ozono (O3) para formar oxigénio e dióxido de azoto (NO2), ao contrário deste último que potencia a formação de ozono. Por outro lado, a velocidade das reacções fotoquímicas, donde resulta a formação do ozono, é lenta, o que leva a que os efeitos dos poluentes precursores emitidos nas zonas urbanas, não sejam sentidos de imediato, dependendo da velocidade e direcção do vento, atingem muitas vezes as zonas rurais que chegam a registar concentrações de ozono superiores às verificadas nos centros urbanos.

Deste modo, através da circulação atmosférica, os óxidos de azoto (NOx) e os hidrocarbonetos são transportados para longe das zonas urbanas, onde o monóxido de azoto é oxidado a dióxido de azoto, e por sua vez, através dos mecanismos de reacção dá-se a formação de ozono.

A presença de ozono na troposfera (camada inferior da atmosfera) é bastante prejudicial, podendo afectar a saúde e o bem estar das populações, causando irritações ao nível dos olhos e vias respiratórias, provocando problemas respiratórios principalmente nos grupos de risco (pessoas asmáticas, crianças, idosos), é também considerado um composto químico altamente reactivo e prejudicial à vegetação, à vida animal e alguns materiais.

Dióxido enxofre

O dióxido de enxofre provém essencialmente da utilização de combustíveis fósseis (carvão e fuel) os quais contêm enxofre. Nas zonas urbanas este poluente está associado à utilização de veículos a gasóleo. Contudo, devido às limitações impostas pelos Comissão Europeia na redução do teor de enxofre nos combustíveis, os níveis de concentração deste poluente têm vindo a baixar.

Outra fonte importante de emissão deste composto são alguns processos industriais, como as centrais de produção de energia, que utilizam o carvão como combustível. Uma vez que algumas destas actividades industriais se encontram fora das grandes cidades, estas emissões podem afectar a qualidade do ar não só nas áreas urbanas como também nas zonas industriais.

Durante o processo de combustão o enxofre libertado é oxidado pelo oxigénio presente na atmosfera, formando o dióxido de enxofre, o qual por sua vez reage com o vapor de água tornando-se num gás ácido e corrosivo, ácido sulfúrico (H2SO4). A sua deposição, na forma seca ou húmida é responsável por causar danos nos seres vivos e provocar a acidificação dos sistemas aquáticos.

Benzeno (C6H6)

O benzeno é um composto orgânico volátil e provém sobretudo de processos de combustão que utilizam combustíveis fósseis, ou pela utilização de solventes. Nas áreas urbanas as emissões de benzeno devem-se em grande parte ao tráfego automóvel, devido à combustão incompleta dos combustíveis (hidrocarbonetos).

O benzeno é um composto de elevada perigosidade, uma vez, que apresenta características cancerígenas.

Legislação

O Decreto – Lei nº 102/2010, de 4 de fevereiro, fixa os objetivos para a qualidade do ar ambiente tendo em conta as normas, as orientações e os programas da Organização Mundial da Saúde, destinados a evitar, prevenir ou reduzir as emissões de poluentes atmosféricos e procede à transposição para o direito interno da Directiva nº 2008/50/CE, de 21 de maio, relativa à qualidade do ar ambiente e a um ar mais limpo na Europa.

Rede de monitorização

A CCDR Algarve é a entidade responsável pela gestão da rede de monitorização da qualidade do ar do Algarve, a qual é constituida por 4 estaçãoes de monitorização da qualidade do ar.

As estações da qualidade do ar, estão equipadas com analisadores automáticos que monitorizam em contínuo e em tempo real a concentração dos principais poluentes atmosféricos. Na tabela abaixo apresentada, indica-se para cada poluente o respectivo analisador e princípio de medição associado.

Parâmetros Método Equipamento
Monóxido de Carbono-CO Fotometria Infra-Vermelhos CO 12M Environment
Dióxido de enxofre-SO2 Fluorescência AF 22M Environment
Òxidos de azoto-NOx Quimilumi scência AC 32M Environment
Compostos Orgânicos Voláteis (benzeno, tolueno e xileno)-BTX Cromatografia com Ionização Chama VOC 71M Environment
Ozono-O3 Absorção UV O3 41M Environment
Partículas em Suspensão, menor que 10µm-PM10 Radiação Beta MP 101 Environment
Partículas em Suspensão, menor que 2,5µm PM2,5 Radiação Beta MP 25 Environment

Os dados são recolhidos para um sistema de software que permite a sua visualização e acesso remotamente, sendo encaminhados para a Base de Dados On-Line da Qaulidade do Ar-QUALAR, sistema que é gerido pela Agência Portuguesa do Ambiente, a qual disponibiliza diariamente, em conjunto com as CCDR, a informação sobre a qualidade do ar, na forma de indíce da qualidade do ar, através do endereço qualar.apambiente.pt.

Na tabela seguinte encontra-se indicada a localização das várias estações da rede de monitorização da qualidade do ar, o tipo de estação quanto à localização e características, bem como os vários poluentes analisados em cada uma das estações.

Estação/localização Urbana de fundo Urbana de tráfego Rural de Fundo
David Neto
Portimão
M 163512,32
P 19091,44
 

PM10; NOx;
CO; BTX

 
Malpique
Albufeira
M 189500,81
P 13858,34
PM10; SO2;
NOx; O3;
   
Joaquim Magalhães
Faro
M 218260,10
P 5371,55
PM10; PM2,5;
SO2; NOx; O3;
   
Cerro
Alcoutim
M 240160,13
P 38441,22
    PM10; PM2,5;
SO2; NOx; O3;

Relatórios: